VOTO REFLEXO E REFLEXÃO
Mais outra
vez acionado o arcaico, irracional e sempre bem sucedido processo eleitoral, em
busca do voto condicionado, a poder de slogans, clichês, e dogmas. Candidatos e
eleitores se enfrentam num curioso ritual de promessas e dúvidas.
O processo previamente blindado dos males da reflexão – por intermédio de regras,
políticas e limites preestabelecidos – introduz a profunda dissonância – muito
além da semântica – entre aqueles que querem ser eleitos e aqueles que precisam
eleger.
A principal sensação natural a ser vencida. Em busca da
cidadania consciente, durante o curso da campanha, é a do desencanto, espécie
de defesa, por reflexo, em face ao encantamento geral que é pulverizado no
espaço lógico, em forma de névoa de termos vazios, promessas e palavras de
efeitos.
Tudo repetido à exaustão, em formatos de slogans,
palavras de ordem, jingles e outros arranjos rimadinhos e anestesiantes,
puxando para o emotivo, o ponto fraco do ser dito racional.
Este desencanto, que pode parecer uma postura negativa,
perante estas raras oportunidades eleitorais, quando se exerce um pouco de
cidadania, é uma postura positiva defensiva e salutar frente ao processo hipnotizante
da ladainha da mesmice que tenta imobilizar a reflexão e ativar o encantamento.
Voto por reflexo
não é exercício da cidadania, é quantidade que legitima uma representação
improvável.
Reflexão é uma
qualidade vinculada à realidade corrente, no aqui-e-agora, dificilmente nascida
e sustentada em santinhos, jingles e horários pasteurizados.
Reflexos são a
matéria prima do consenso fabricado e impõem uma opinião pública; enquanto a reflexão
desvenda e revela a opinião do público,
sustentada por um senso crítico de sua realidade.
A experiência acumulada nos faz intuir, gera uma certeza
e um pós conceito de que a estrutura legal e a prática reiterada – ao não
considerar um preparo prévio de candidatos, ao não proporcionar ferramentas apropriadas
para controle das atividades dos eleitos representantes e processos confiáveis
de auto-saneamento – não pode cumprir a tarefa de evitar desastres no processo.
Candidatos sugestivamente ou sabidamente despreparados
e/ou corruptos mensalões e dancinhas de absolvição, são as consequências
inevitáveis.
Os exemplos são gerais, mas nosso município infelizmente
não se apresenta como a tão honrosa e esperada exceção.
A campanha que deveria ser pedagógica (o bem comum está
em jogo e em perigo também) se apresenta com um barulhento projeto, gerido por
marqueteiros bem pagos, para filtrar, selecionar, distorcer e racionalizar
informações, reforçando crenças e
preservando o que é familiar e confortável, é o campo do pensamento automático
e visceral, é o campo do reflexo.
Sob esse ponto de vista, a campanha é tida não como um
instrumento de crítica, expressão ou conhecimento, mas como um produto a ser
consumido, ressonando com a deformada e vigente indústria cultural.
Ideologia do Partido, Plano de Governo e fidelidade a
ambos, que pode levar à reflexão é um
perigo na arte de ser eleito, principalmente quando quem quer eleger pode
perceber que quem quer ser eleito não domina a arte-ciência de administrar. Daí
a persistência no campo das emoções.
Considerando o desencanto e o encantamento, o que se pode
fazer para, sob um enfoque reflexivo, transformar estes espasmos periódicos de
criar eleitos em efetivo exercício de cidadania?
A Coisa Pública (Res
Pública) o Bem Comum, merece uma atenção, senão maior ao menos no mesmo
nível, que o privado.
O Diretor-Presidente e o Conselho Consultivo de uma S.A.
devem apresentar um comprovado preparo – assim como o médico, o engenheiro e o
advogado em suas respectivas áreas de atuação – para o desempenho e adequada
prestação de contas aos acionistas. Disto depende sua eleição, carreira e
permanência nos cargos e mandatos.
Por que este padrão pode ser negligenciado na área
Pública? É lógico que se deve resguardar as diferenças, mas porque deveríamos
resguardar a incompetência e o despreparo apresentado e imposto? Platão
escreveu bastante e bem a respeito. Sua “República”
é seguida à risca pela iniciativa privada.
E já que mencionamos um filósofo, vamos
mencionar outro, Mostesquieu, o qual considerou além da independência e
harmonia dos poderes (a prática tem superado este incômodo), também sugeriu que
a representação é um oportuno mito, pois um homem só pode representar a si
próprio e a seus interesses, terminando o interesse público onde começa o seu
particular.
Para desvirtualizarmos, sem desvirtuar, apresentamos uma
ilustração, fazendo uma consulta junto ao site da Câmara Federal.
Que conclusão a nova Lei das Falências – que transferiu a
prioridade dos direitos, trabalhistas, sobre a massa falida, para o sistema
financeiro – nos sugere? Se a mesma foi votada por representantes dos trabalhadores
– alguns atuais candidatos. Seria de concluir (considerando o instituto da
representatividade sincera) que nós, o povo queremos que o Brasil continue
sendo o paraíso dos banqueiros e o purgatório dos bancários.
Curiosa esta nossa democracia, onde o tal de bem comum é
a única facção que não tem “lobby”
nos parlamentos, elegemos representantes para defenderem os interesses das
corporações. E o projeto da taxação das grandes fortunas continua engavetado.
Quanto a planos de saúde, cartórios e ensino privado a legislação já esta adequada.
Isto é um fato por demais conhecido para que o sistema
político em geral, e o partidário em particular, não tenham resolvido ainda
esta questão, criando efetivas ferramentas de informação, coordenação, comando
e controle de seus agentes envolvidos no alardeado projeto democrático.
Acaso o voto distrital não aumentaria, ao menos um pouco,
o frágil e quase inexistente controle sobre a representatividade dos eleitos? E
uma perda definitiva da elegibilidade conjuminada com o código penal, a exemplo
do outros setores sociais (CRM e OAB), talvez desestimulasse, ao menos um
pouco, a corrupção e desvio de finalidade e as renúncias preventivas.
E quanto à propalada Ética e Reputação? Por que só a do
juiz deve ser ilibada para estar acima da suspeição em seus julgamentos, enquanto
alguns políticos podem se apresentar como abaixo de qualquer certeza, serem
reeleitos, com a reflexa e emotiva conivência do inconsciente voto popular e
assim usar nossos parlamentos e gabinetes para em nome próprio praticarem politicagem,
em prejuízo da democracia.
Está se tornando a cada dia mais aceitável, como opção,
os aclamados ¨rouba, mas faz¨ como
sendo um remédio com indesejáveis efeitos colaterais e, no entanto, isto não
passa de um fabuloso veneno para o bem comum que deve ser evitado a qualquer
custo. Fazer faz parte do mandato que lhes foram outorgados, já o roubar é
assunto de Processo Penal e ostracismo politico.
Há ainda uma distinção curiosa e necessária a se
esclarecer, é a existente entre fato e problema e que se apresenta como um dos
sustentáculos desse processo deformado e deformante.
Um problema caracteriza-se por ter uma solução, conhecida
ou não e em tese possível. Já um fato é algo com que devemos nos conformar, não
necessita e nem exige uma solução, ou assim se acredita.
Assim nossas raças e alturas não são problemas, não
fatos, no entanto as curas do câncer e da AIDS não problemas, exigem e impõem
uma perseverante busca de solução.
A questão política tem se apresentado, ladinamente e
contrário senso, como um problema, assim como a questão do nosso lixão
(indevidamente denominado de aterro sanitário).
Em ambos os casos não há um problema a ser resolvido,
sabemos perfeitamente como deve ser feito, temos tecnologia e metodologia para
gerir a questão, é um problema superado, a solução existe e é conhecida, apesar
de não aplicada. Nada precisa ser descoberto, inventado ou proposto, no
entanto, erigem-se como enormes, monstruosos e perversos problemas (possuem
solução apesar de não solucionados), com os quais somos induzidos a nos
conformarmos. Aí está a contradição, pois como dissemos a conformação é com os fatos e não com problemas.
Devemos nos conformar, por reflexo, a um falso problema
(como é a seca do Nordeste, as MPs e a impunidade parlamentar e por aí afora e aqui a dentro), porque a
solução, que eliminaria o fato e revelaria a perversidade na problematização,
não interessa a quem quer ser eleito, apesar dos que querem eleger.
Por questões de menor importância, em face de um pequeno
problema cotidiano como a troca de um veículo ou a compra de um eletrônico,
despendemos tempo, energia e esforços de pesquisa, quanto à procedência, custo
e qualidade, procuramos a escolha certa, vencemos em alguns casos até as imposições midiáticas.
Quanto de pesquisa, atenção e reflexo devemos investir no
trato das questões maiores como segurança, saúde, educação, possibilidades de
empregos, bem estar social? Estes temas, além de outros – agrupados sob a
realidade designada como Bem Comum, Coisa Pública e exercício da Cidadania –
são dependentes, na prática, daqueles que instituímos como nossos
representantes nos parlamentos e gabinetes, daí o cuidado e a seriedade em
distinguirmos as promessas dos projetos factíveis, os slogans e clichês da
manipulação e o dogma, da verdade.
Indo para além da paródia dos navegadores: refletir é preciso; votar também pode ser preciso. Apesar de que pensar cansa e pode
nos tirar da zona de conforto.
A campanha está aí. Se fizermos a hora, pela reflexão e
pelo saber e não esperarmos acontecer, na inconsciência dos reflexos,
descobriremos a tempo, que depende de “nós” para que exista o “eles” que nos representando, efetivará nossa cidadania. Cidadania
nos lembra cidade, município, único entre político real, onde acontece nossa
realidade, Daí a importância de se eleger o Prefeito e os Vereadores mais
adequados e não os que mais reflexos nos impuserem. É uma questão importante, é
uma questão para reflexão.
Londrina, JUL 2012
CARMELO ZAPALÁ GIUFRIDA
ADESG LONDRINA
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