sexta-feira, 27 de julho de 2012


VOTO REFLEXO E REFLEXÃO

Mais outra vez acionado o arcaico, irracional e sempre bem sucedido processo eleitoral, em busca do voto condicionado, a poder de slogans, clichês, e dogmas. Candidatos e eleitores se enfrentam num curioso ritual de promessas e dúvidas.
            O processo previamente blindado dos males da reflexão – por intermédio de regras, políticas e limites preestabelecidos – introduz a profunda dissonância – muito além da semântica – entre aqueles que querem ser eleitos e aqueles que precisam eleger.
            A principal sensação natural a ser vencida. Em busca da cidadania consciente, durante o curso da campanha, é a do desencanto, espécie de defesa, por reflexo, em face ao encantamento geral que é pulverizado no espaço lógico, em forma de névoa de termos vazios, promessas e palavras de efeitos.
            Tudo repetido à exaustão, em formatos de slogans, palavras de ordem, jingles e outros arranjos rimadinhos e anestesiantes, puxando para o emotivo, o ponto fraco do ser dito racional.
            Este desencanto, que pode parecer uma postura negativa, perante estas raras oportunidades eleitorais, quando se exerce um pouco de cidadania, é uma postura positiva defensiva e salutar frente ao processo hipnotizante da ladainha da mesmice que tenta imobilizar a reflexão e ativar o encantamento.
            Voto por reflexo não é exercício da cidadania, é quantidade que legitima uma representação improvável.
            Reflexão é uma qualidade vinculada à realidade corrente, no aqui-e-agora, dificilmente nascida e sustentada em santinhos, jingles e horários pasteurizados.
            Reflexos são a matéria prima do consenso fabricado e impõem uma opinião pública; enquanto a reflexão desvenda e revela a opinião do público, sustentada por um senso crítico de sua realidade.
            A experiência acumulada nos faz intuir, gera uma certeza e um pós conceito de que a estrutura legal e a prática reiterada – ao não considerar um preparo prévio de candidatos, ao não proporcionar ferramentas apropriadas para controle das atividades dos eleitos representantes e processos confiáveis de auto-saneamento – não pode cumprir a tarefa de evitar desastres no processo.
            Candidatos sugestivamente ou sabidamente despreparados e/ou corruptos mensalões e dancinhas de absolvição, são as consequências inevitáveis.
            Os exemplos são gerais, mas nosso município infelizmente não se apresenta como a tão honrosa e esperada exceção.
            A campanha que deveria ser pedagógica (o bem comum está em jogo e em perigo também) se apresenta com um barulhento projeto, gerido por marqueteiros bem pagos, para filtrar, selecionar, distorcer e racionalizar informações, reforçando crenças e preservando o que é familiar e confortável, é o campo do pensamento automático e visceral, é o campo do reflexo.
            Sob esse ponto de vista, a campanha é tida não como um instrumento de crítica, expressão ou conhecimento, mas como um produto a ser consumido, ressonando com a deformada e vigente indústria cultural.
            Ideologia do Partido, Plano de Governo e fidelidade a ambos, que pode levar à reflexão é um perigo na arte de ser eleito, principalmente quando quem quer eleger pode perceber que quem quer ser eleito não domina a arte-ciência de administrar. Daí a persistência no campo das emoções.
            Considerando o desencanto e o encantamento, o que se pode fazer para, sob um enfoque reflexivo, transformar estes espasmos periódicos de criar eleitos em efetivo exercício de cidadania?
            A Coisa Pública (Res Pública) o Bem Comum, merece uma atenção, senão maior ao menos no mesmo nível, que o privado.
            O Diretor-Presidente e o Conselho Consultivo de uma S.A. devem apresentar um comprovado preparo – assim como o médico, o engenheiro e o advogado em suas respectivas áreas de atuação – para o desempenho e adequada prestação de contas aos acionistas. Disto depende sua eleição, carreira e permanência nos cargos e mandatos.
            Por que este padrão pode ser negligenciado na área Pública? É lógico que se deve resguardar as diferenças, mas porque deveríamos resguardar a incompetência e o despreparo apresentado e imposto? Platão escreveu bastante e bem a respeito. Sua “República” é seguida à risca pela iniciativa privada.
            E já que mencionamos um filósofo, vamos mencionar outro, Mostesquieu, o qual considerou além da independência e harmonia dos poderes (a prática tem superado este incômodo), também sugeriu que a representação é um oportuno mito, pois um homem só pode representar a si próprio e a seus interesses, terminando o interesse público onde começa o seu particular.
            Para desvirtualizarmos, sem desvirtuar, apresentamos uma ilustração, fazendo uma consulta junto ao site da Câmara Federal.
            Que conclusão a nova Lei das Falências – que transferiu a prioridade dos direitos, trabalhistas, sobre a massa falida, para o sistema financeiro – nos sugere? Se a mesma foi votada por representantes dos trabalhadores – alguns atuais candidatos. Seria de concluir (considerando o instituto da representatividade sincera) que nós, o povo queremos que o Brasil continue sendo o paraíso dos banqueiros e o purgatório dos bancários.
            Curiosa esta nossa democracia, onde o tal de bem comum é a única facção que não tem “lobby” nos parlamentos, elegemos representantes para defenderem os interesses das corporações. E o projeto da taxação das grandes fortunas continua engavetado. Quanto a planos de saúde, cartórios e ensino privado a legislação já esta adequada.
            Isto é um fato por demais conhecido para que o sistema político em geral, e o partidário em particular, não tenham resolvido ainda esta questão, criando efetivas ferramentas de informação, coordenação, comando e controle de seus agentes envolvidos no alardeado projeto democrático.
            Acaso o voto distrital não aumentaria, ao menos um pouco, o frágil e quase inexistente controle sobre a representatividade dos eleitos? E uma perda definitiva da elegibilidade conjuminada com o código penal, a exemplo do outros setores sociais (CRM e OAB), talvez desestimulasse, ao menos um pouco, a corrupção e desvio de finalidade e as renúncias preventivas.
            E quanto à propalada Ética e Reputação? Por que só a do juiz deve ser ilibada para estar acima da suspeição em seus julgamentos, enquanto alguns políticos podem se apresentar como abaixo de qualquer certeza, serem reeleitos, com a reflexa e emotiva conivência do inconsciente voto popular e assim usar nossos parlamentos e gabinetes para em nome próprio praticarem politicagem, em prejuízo da democracia.
            Está se tornando a cada dia mais aceitável, como opção, os aclamados ¨rouba, mas faz¨ como sendo um remédio com indesejáveis efeitos colaterais e, no entanto, isto não passa de um fabuloso veneno para o bem comum que deve ser evitado a qualquer custo. Fazer faz parte do mandato que lhes foram outorgados, já o roubar é assunto de Processo Penal e ostracismo politico.
            Há ainda uma distinção curiosa e necessária a se esclarecer, é a existente entre fato e problema e que se apresenta como um dos sustentáculos desse processo deformado e deformante.
            Um problema caracteriza-se por ter uma solução, conhecida ou não e em tese possível. Já um fato é algo com que devemos nos conformar, não necessita e nem exige uma solução, ou assim se acredita.
            Assim nossas raças e alturas não são problemas, não fatos, no entanto as curas do câncer e da AIDS não problemas, exigem e impõem uma perseverante busca de solução.
            A questão política tem se apresentado, ladinamente e contrário senso, como um problema, assim como a questão do nosso lixão (indevidamente denominado de aterro sanitário).
            Em ambos os casos não há um problema a ser resolvido, sabemos perfeitamente como deve ser feito, temos tecnologia e metodologia para gerir a questão, é um problema superado, a solução existe e é conhecida, apesar de não aplicada. Nada precisa ser descoberto, inventado ou proposto, no entanto, erigem-se como enormes, monstruosos e perversos problemas (possuem solução apesar de não solucionados), com os quais somos induzidos a nos conformarmos. Aí está a contradição, pois como dissemos a conformação é com os fatos e não com problemas.
            Devemos nos conformar, por reflexo, a um falso problema (como é a seca do Nordeste, as MPs e a impunidade parlamentar e por aí afora e aqui a dentro), porque a solução, que eliminaria o fato e revelaria a perversidade na problematização, não interessa a quem quer ser eleito, apesar dos que querem eleger.
            Por questões de menor importância, em face de um pequeno problema cotidiano como a troca de um veículo ou a compra de um eletrônico, despendemos tempo, energia e esforços de pesquisa, quanto à procedência, custo e qualidade, procuramos a escolha certa, vencemos em alguns casos  até as imposições midiáticas.
            Quanto de pesquisa, atenção e reflexo devemos investir no trato das questões maiores como segurança, saúde, educação, possibilidades de empregos, bem estar social? Estes temas, além de outros – agrupados sob a realidade designada como Bem Comum, Coisa Pública e exercício da Cidadania – são dependentes, na prática, daqueles que instituímos como nossos representantes nos parlamentos e gabinetes, daí o cuidado e a seriedade em distinguirmos as promessas dos projetos factíveis, os slogans e clichês da manipulação e o dogma, da verdade.
            Indo para além da paródia dos navegadores: refletir é preciso; votar também pode ser preciso. Apesar de que pensar cansa e pode nos tirar da zona de conforto.
            A campanha está aí. Se fizermos a hora, pela reflexão e pelo saber e não esperarmos acontecer, na inconsciência dos reflexos, descobriremos a tempo, que depende de “nós para que exista o “eles” que nos representando, efetivará nossa cidadania. Cidadania nos lembra cidade, município, único entre político real, onde acontece nossa realidade, Daí a importância de se eleger o Prefeito e os Vereadores mais adequados e não os que mais reflexos nos impuserem. É uma questão importante, é uma questão para reflexão.

Londrina, JUL 2012
CARMELO ZAPALÁ GIUFRIDA
ADESG LONDRINA

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Antunes Savas: Diretor deste blog e Editor do jornal Fatos da Sociedade